Domingo, Dezembro 22, 2024
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Novo regime jurídico do ensino superior aprovado com votos do PS e abstenção do PSD

 

A proposta de lei do Governo sobre o novo regime jurídico das instituições do ensino superior foi aprovada na generalidade no Parlamento, com os votos favoráveis do PS, a abstenção do PSD e os votos contra dos restantes partidos.

O PSD justificou a sua abstenção como “um sinal e uma oportunidade” para o Governo adiar o prazo para aprovação final da lei. “O PSD vai abster-se na votação como um sinal e uma oportunidade para obter consenso, na expectativa de o rumo ainda se poder alterar”, disse o deputado social-democrata Agostinho Branquinho durante o debate na Assembleia da República.

Manifestando a vontade do PSD em colaborar na elaboração de “uma reforma estruturante” do ensino superior, o deputado apontou o mês de Outubro como um prazo curto, mas suficiente para “formalizar o processo legislativo de forma a fazer o debate de forma séria”.

Também o deputado social-democrata Pedro Duarte considerou que o prazo apontado pelo PSD pode ser cumprido. “É um prazo curto que nos vai fazer aprovar à pressa uma lei, mas que vai impedir a aprovação de uma lei precipitada, que crie instabilidade e com a ameaça permanente de poder vir a ser revogada quando houver uma mudança no Governo”, disse. O Governo pretende fazer o debate na especialidade do documento hoje aprovado pelo plenário até ao final do mês do Julho.

A alegada pressa manifestada pelo Governo foi, de resto, um ponto de consenso em toda a oposição, com os comunistas a considerarem que a restrição dos prazos só pode ser entendida como “uma tentativa de silenciamento das opiniões críticas à proposta de lei do Governo”, que são transversais a todos os partidos e aos vários parceiros do sector.

Na opinião do deputado do CDS-PP José Paulo de Carvalho, “o Governo iniciou uma desenfreada fuga para a frente, sem olhar consequências. Foi escolhido o final do ano lectivo e a altura dos exames para o debate final, o que é demais para ser mera coincidência”. O deputado afirmou ainda, ironizando, que o Governo conseguiu de facto “gerar um consenso: da direita à esquerda, dos professores aos alunos, dos reitores aos sindicatos, do ex-presidente da República [Jorge Sampaio] a constitucionalistas, todos estão de acordo. Trata-se de uma má lei, péssimo regime e dano irreparável”.

“Só é pena que não perceba que o consenso generalizado que gerou lhe está a exibir um claríssimo cartão vermelho”, acrescentou.

Manuel Alegre e Vera Jardim preocupados com oposição generalizada

Esta oposição generalizada no meio académico contra a lei é também motivo de “preocupação” para o deputado do PS Manuel Alegre, que entregou uma declaração de voto, da mesma forma que o socialista Vera Jardim. Em declarações aos jornalistas, Manuel Alegre concordou que “deveria haver mais tempo para discutir” e disse-se preocupado com o facto de “todas as elites universitárias” estarem contra a lei, aconselhando o Governo a “uma atitude de maior prudência”.

No encerramento do debate, o ministro do Ensino Superior, Mariano Gago, reafirmou “total disponibilidade para o diálogo na especialidade e melhoria da proposta”, à semelhança do que já dissera na sua intervenção inicial.

Na abertura da discussão na AR, Mariano Gago reconheceu a necessidade de ponderar todos os últimos contributos, mas reiterou que foi dado espaço suficiente para a discussão pública. “Gostaria de reafirmar a minha inteira disponibilidade para, em sede de apreciação na especialidade em comissão, analisar convosco todas as questões, designadamente aquelas identificadas nos pareceres já todos disponíveis”, disse. “Estou convicto de que chegaremos muito rapidamente, se não a consenso integral, pelo menos à total clarificação das opções a tomar”, acrescentou.

Em resposta, a oposição uniu-se nas críticas à proposta de lei, acusando o Governo de querer “liquidar” a autonomia universitária e silenciar a contestação com um escasso debate público.

Numa acesa discussão na Assembleia da República, os partidos da oposição tecerem duras críticas ao documento, considerando que o seu objectivo é apenas a governamentalização das universidades e institutos politécnicos.

A nomeação por parte do Executivo dos membros do Conselho de Curadores, que irá gerir as futuras fundações, foi um dos aspectos mais criticados pelos partidos, que contestam a presença de “olheiros do Governo” no interior dos estabelecimentos de ensino.

Fernando Rosas, do BE, afirmou que a proposta “é um gesto desgraçado e prepotente” e acusou o ministro da tutela de pretender impor o novo regime “pela força bruta de uma maioria absoluta”.

A alteração na forma prevista para a escolha do reitor – que deixará de ser eleito para passar a ser designado por um conselho geral – foi também duramente criticada.

Na resposta, o ministro disse que “a escolha do reitor passará a ser bem mais responsável” e idêntica às melhores práticas internacionais.

A proposta de lei foi aprovada na generalidade e baixará à comissão de Educação para discussão na especialidade.

Durante a votação, cerca de 30 estudantes universitários, presentes na galeria da Assembleia da República, levantaram-se e gritaram: “Não à privatização”, tendo sido expulsos pela polícia.

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