Ex.mo Senhor Secretário Regional da Educação e Cultura da Região Autónoma doas Açores,
O Senhor talvez ainda não esteja bem ciente do mal que fez a centenas e centenas de profissionais, a centenas e centenas de seres humanos. A sua demagogia, o seu populismo eleitoral, o seu autismo político e a sua arrogância atingiram proporções que não se coadunam com um País Democrático.
Vou tentar ser sereno nesta minha opinião, ser brando nas palavras, coisa nada fácil, dado que estou a reformular um projecto de vida construído ao longo dos últimos anos e que a sua demagogia pretende arruinar. Vou falar na primeira pessoa, vou contar a minha história, pois acredito que está a ser vivida do mesmo modo por muitas pessoas.
Então aí vai…
Nasci no Porto, morei no Porto, cresci no Porto, estudei no Porto, amo o Porto, mas conheci uma florentina, nascida e criada nas Flores, agora… conheço as Flores, ensino nas Flores (há 2 anos), moro nas Flores, amo as Flores e a florentina. Quero ficar por cá por muitos e bons anos… O único problema é que sou professor, mas… não tirei o curso da universidade dos Açores, não fiz a profissionalização nos Açores, não ingressei no ensino superior pelo contigente Açores, nem trabalho cá há mais de três anos, nem sequer sou seu sobrinho. Sou professor contratado e vou fazer um concurso que está viciado à partida, é claro que o Sr. com a sua demagogia disse há poucas horas na RTP Açores que o concurso não excluí ninguém. Tem toda a razão! O problema é que apenas a primeira prioridade (os candidatos por três anos) têm hipótese de acesso aos quadros e segundo as novas regras do concurso (aprovadas de forma relâmpago e sem discussão) quase ninguém dos candidatos não açorianos, ou melhor, eleitores não açorianos, pode concorrer em primeira prioridade. O Sr. justifica as alterações de concurso dizendo que são para fixar o pessoal docente nas escolas da região. Agora diga-me uma coisa, as
pessoas ao concorrerem por três anos não se estão a comprometer a ficar no arquipélago por três anos? Faltam? Metem Atestados? Investigue! Envie juntas médicas a comprove a veracidade dos facto!
Mas investigue também as faltas dos açorianos deslocados. Agora, não pode é partir do pressuposto (preconceito) que todos os continentais são maus, que não cumprem e os açorianos é que sim. Este diploma reflecte esse preconceito. Além disso, é inconstitucional. Leia o artigo décimo terceiro, ponto dois da Constituição da República Portuguesa “Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão (…) de território de origem”; o artigo quadragésimo sétimo, ponto dois “todos têm o direito de acesso à função pública em condições de igualdade e liberdade, em regra via concurso”; o artigo quinquagésimo, ponto um “Todos os cidadãos têm acesso, em condições de igualdade e liberdade, aos cargos públicos” Uma último aspectos sendo os Açores ainda uma região bastante isolada, com uma profunda identidade cultural, os açorianos, no essencial, têm uma cultura semelhante. Não é na diversidade que está a riqueza da educação? Não é uma sociedade multicultural mais rica? Vivam os açorianos, os portuenses, os alentejanos e os beirões. Não leve a mal o meu desabafo, que acredito, é o de muitas centenas de colegas. Nunca é tarde para emendar um erro e já agora faça sua a frase do poeta “ a minha pátria é o chão que eu piso, o meu compatriota é o meu companheiro de viagem”.
Cumprimentos à sua esposa e aos seu filhos. Sabe… tem muita sorte em estar junto deles.
Sérgio Ferreira
Professor Contratado Da Escola Básica 2,3/ S Padre Maurício de Freitas- Flores
P.S. – Já agora… enviei-lhe, há já semana, um pedido a solicitar apoio financeiro para a frequência dos Mestrado em Gestão e Conservação da Natureza, na Universidade dos Açores. Arranje um tempinho e disponibilize uns Euros.